Reparei em minhas leituras que vários autores já escreveram sobre os chatos (pessoas chatas mesmo), dado o espaço que eles ocupam.
É fato que os chatos são marcantes, eles nunca passam despercebido. São, realmente, figuras notáveis.
Se eu perguntar aqui se você conhece um chato, você pensará instantaneamente em pelo menos um nome, tenho certeza. Eu penso em vários!
Arnaldo Jabor diz que o chato sabe que é chato e que, para sair da categoria de chato e ser aceito como não-chato, ele chateia todo mundo, porque é um carente. Então, ele fica insistindo, e se torna ainda mais chato.
Jabor fala também sobre a origem da expressão “chato de galocha”. Esse é o cara que no meio de um temporal, calça as galochas e sai de casa só para ir chatear o outro. É o chato de galocha.
Millôr Fernandes diz que o chato é o indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele. E isso é porque um chato não existe sozinho, ele se alimenta da reação das pessoas. Ele precisa de pessoas para exercer sua função de chato.
Eles estão em todos os lugares, espalhados estrategicamente para garantir que todo mundo tenha pelo menos um deles por perto, um chato para chamar de seu. Se fizessem um mapa tipo o do Uber que mostra os carros por perto, mas mostrando os chatos que tem por perto, veríamos vários bonequinhos no mapa.
E a variedade é infinita. Eu tenho certeza de que quem ler esse texto é capaz de acrescentar outras modalidades não citadas aqui.
Mario Quintana diz, e pra mim faz muito sentido, que o maior chato é o chato perguntativo, que é melhor o chato discursivo ou narrativo, porque se pode ouvir pensando em outra coisa. O chato que pergunta demais exige de nós um nível de paciência maior e também nos consome mais energia.
Tem os chatos exagerados. Sobre esses, o escritor francês François de La Rochefoucauld, abordou o tema de maneira sutil e quase poética, dizendo: "Os chatos são como as rãs: eles fazem muito barulho por pouca coisa.".
E aqueles chatos que querem mostrar um conhecimento que não tem? Luis Fernando Veríssimo chama de “Falso Entendido”, que é aquele que não sabe nada sobre o assunto, mas conhece os jargões, fala como se entendesse e ainda julga quem diz não entender. Esse é fascinante e encontramos muitos no mundo corporativo.
O chato competitivo, que cria uma competição de tragédias e luta para ganhá-la. A desgraça dele é sempre pior, ele sempre tem um sofrimento maior pra contar. Se a gente conta que quebrou um braço, ele já começa “pior sou eu que fui atropelado”. Você conta que foi demitido, ele já vem com “e eu que praticamente fui morar na rua”.
Tem chato que gosta de sofrer. A gente fala que ele é chato, que ele está enchendo o saco, ele está ciente, mas continua ali, não se abala, não desiste nunca. Para ele, está tudo bem continuar ouvindo que é chato, ele já está acostumado e talvez até se sinta especial com a atenção que recebe.
Tem muitos outros tipos de chato, que não caberiam aqui.
Só tem parte ruim nisso? Claro que não. Mas bom mesmo é quando dois chatos com a mesma chatice se juntam e se identificam. Essa é uma situação sem sofrimentos. É o encontro ideal. Guilherme Figueiredo diz que cada indivíduo tem o chato que merece e que é impossível chatear um chato. Então, dois chatos da mesma espécie não se chateiam.
A verdade é que o chato é um cara forte, resiliente e incansável. Temos que admitir que é um guerreiro, que não desiste nunca. Ele até pode mudar o alvo e a estratégia, mas jamais abandonará a batalha.
Mario Quintana diz que há 2 espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os nossos chatos prediletos.
Você tem um amigo chato? Quem é o seu chato predileto?
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