“Quando falarem mal de você, não fique chateado, pois você é muito pior do que eles pensam.” Charles H Spurgeon
Interessante esta frase, não? Gosto dela! Me fez pensar em algumas coisas.
Eu fui uma criança muito tímida, comportada, estudiosa. Não respondia para os meus pais, não confrontava ninguém, não questionava nada. Cuidava para não fazer nada que pudesse decepcionar qualquer pessoa e ficava muito mal quando isso acontecia. Ninguém espera nada de ruim de uma criança dessas, certo? Mas também não espera nada de extraordinário, porque é uma pessoa que está sendo condicionada apenas a seguir regras.
Era uma criança insegura. E assim eu cresci, com medo de errar. Tinha pânico de falar em público. Apresentar trabalho na escola ou faculdade era uma coisa que me tirava o sono. Hoje eu sei que o medo que eu tinha não era de falar em público, mas de falhar em público.
Já adulta, ter um bloqueio para falar não apenas me tirou oportunidades, como me causou problemas importantes. Eu não conseguia falar o que me incomodava, das coisas que eu gostava e não gostava. Era quase inacessível. Eu decepcionava pessoas com isso.
Mas a vida nos ensina. A gente cresce, cai, levanta e aprende. Então, aprendi a falar. Abriu-se uma boca que nunca mais se fechou.
Agora, veja que interessante: quando comecei a falar, decepcionei por isso também. Porque, ao optar por não aceitar o meu desconforto, acabei deixando pessoas desconfortáveis. Às vezes, fala-se o que o outro não quer ouvir e isso também traz consequências (pelas quais me responsabilizo totalmente). Mas nada se iguala à paz de não carregar uma bomba relógio dentro do peito.
Refletindo sobre isso, me vieram duas questões: expectativas e identidade.
1. Expectativas
Praticamente todas as nossas frustrações devem-se às expectativas que criamos sobre algo ou alguém (normalmente, alguém). O ponto é que, quando eu me decepciono ou me surpreendo com alguém, tem muito mais a ver com a expectativa que eu criei em relação àquela pessoa do que com quem ela é, de fato. Se eu espero muito e ela faz menos ou diferente, me frustro. Ela é aquilo, independente do que eu espero que ela seja. Minha expectativa não a transformará no que eu quero.
Portanto, a melhor coisa a se fazer é não esperar nada de ninguém. Inclusive, por favor, desejo que também não espere de mim. Eu posso ser muito pior do que você imagina.
Você acha que quando Jesus entrou no templo derrubando mesas e expulsando maior galera era a atitude que as pessoas esperavam dele? Jamais! Meus caros, se nem Jesus se preocupou com o que esperavam dele, quem sou eu pra me preocupar, não é mesmo?
2. Identidade
Quando alguém me fala “vê se não me decepciona, hein!”, só o que posso fazer é começar a decepcionar o quanto antes, pra poupar o tempo de todo mundo. Porque, sim, da pessoa irrepreensível que esperam que eu seja só sairá decepção, já que essa é uma versão minha que não existe.
Eu sei muito bem quem eu sou e também quem eu não sou. Sei que não agrado completamente a ninguém. Ainda que eu seguisse uma cartilha à risca, um manual de instruções, não agradaria. A maioria das pessoas mal sabe o que quer da própria vida, não são capazes de agradar nem a si próprios.
Quando eu me preocupo em atender as expectativas do outro, estou dando a ele o poder de controle sobre a minha vida. Como se eu tivesse que obedecer a comandos. Isso não faz o menor sentido. Por que eu me deixaria guiar pela vontade alheia, lutando contra mim mesma?
Aqui do alto da minha maturidade, entendi que não tenho que gastar minha energia tentando eliminar os meus defeitos, porque eles também são importantes para sustentar o meu edifício. Esta sou eu. Não tenho que ficar tentando me controlar, ainda que não agrade. O que eu preciso, sim, é fazer gestão das minhas emoções, não mudar uma parte minha que é importante.
Para ilustrar: sou uma pessoa bastante intensa e exagerada. Se tem uma pessoa que usa hipérboles na comunicação, esta sou eu. Sou chorona e, quando sinto, sinto muito. Quando gosto de algo, gosto demais. Fico muito muito triste, mas também fico muito muito feliz. Falo com paixão das coisas que me fazem vibrar. Sou obsessiva e me dedico totalmente à aquilo. Pois bem, já me disseram que isso incomoda, que eu deveria ser mais contida, baixar um pouco a minha bola. E, juro, cheguei a tentar. Mas eu não me reconhecia e vi que isso apagava o meu brilho.
Aprendi que as pessoas operam em frequências diferentes, e tudo bem. Aqui, não há certo e errado. Aquilo que para alguns é um incômodo (a minha intensidade, por exemplo), para outros é uma característica fascinante. Se eu tentar me adequar, morrerei louca!
Em um momento de uma crise, por exemplo, não é da minha amabilidade e da minha good vibe que eu preciso. Eu preciso é da minha agressividade, do quanto eu sou capaz de confrontar e me impor sem me deixar abater. Usar isso na hora errada é uma idiotice, mas me tirar essa agressividade me tornará fraca e indefesa.
É minha e só minha a responsabilidade sobre a minha vida e o rumo que ela toma. Não aceito mais (infelizmente, já aceitei) que me digam o que é certo e errado. Eu sei o que é e faço minhas próprias escolhas.
Não aceito opiniões não solicitadas, justamente porque quem costuma se ocupar demais com a vida alheia tem a sua totalmente fora de controle.
Assim como no jogo do Super Mario, que tem o Mushroom 1up, aquele cogumelo verde bonitinho que acrescenta uma vida, na vida real cada um tem o seu cogumelo para cuidar. E se não cuidar, perde. (Sim, adoro o Mario. Me deixem!)
Portanto, não espere nada de mim. Não tenha expectativa alguma sobre a minha pessoa. Sou capaz de coisas que ninguém nem imagina. Eu sou muito pior do que vocês pensam.
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